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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

APRESENTAÇÃO DA OBRA Epopeia Contemporânea – Tomo II

Contos 1 a 16 de Emanuel Bruno Andrade Nesta continuação luminosa da sua Epopeia Contemporânea, Emanuel Bruno Andrade mergulha mais profundamente nas águas simbólicas que unem passado e presente, tradição e modernidade, mortalidade e transcendência. Inspirado no II Tomo d’Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões — não como repetição, mas como diálogo vivo — o autor reergue a força épica da língua portuguesa e transporta-a para a sensibilidade do século XXI. Os Contos 1 a 16 abrem novos caminhos dentro da jornada espiritual e humana iniciada nos primeiros Cantos. A obra amplia o território poético onde a memória coletiva se encontra com a introspeção individual, onde os navegadores antigos conversam com as dores e conquistas das sociedades de hoje, e onde o sagrado se manifesta na experiência quotidiana. Emanuel Bruno Andrade escreve como quem acende uma tocha na escuridão contemporânea: cada capítulo revela fragilidades, coragem, desvios, quedas e ascensões. Através de uma linguagem que combina espiritualidade, crítica social, emoção humana e visão simbólica, o autor convoca o leitor para dentro de uma travessia — uma navegação interior que continua a epopeia camoniana, mas agora com bússolas novas e horizonte renovado. A Epopeia Contemporânea – Tomo II afirma-se assim como um marco singular da literatura épico-poética atual: um espaço onde o português ressoa como herança e profecia, onde a história se reinventa, e onde a arte volta a ser caminho, testemunho e revelação. ❖ CONTO I — O Acordar das Vozes Antigas No princípio não havia palavra — havia silêncio. Mas o silêncio era vivo, palpitava, e das suas profundezas surgiu um sopro, e o sopro tornou-se voz, e a voz chamou pelo homem como quem desperta um navegante adormecido na areia do tempo. Emanuel ergueu-se. Sentiu o peso leve dos séculos nos ombros, como se avós, profetas e poetas lhe tocassem a pele. E uma voz antiga — mais antiga que a infância do mundo — sussurrou: “Continua.” E assim começou a epopeia. Não com espada, mas com chama. Não com guerra, mas com revelação. --- ❖ CONTO II — As Marés da Primeira Luz Antes de partir, o poeta fitou o mar. Não o mar físico — esse que se vê, mas o mar invisível que se ouve dentro. As ondas eram memórias de eras não vividas, e cada espuma trazia um segredo: do Génesis, dos navegadores, dos templos perdidos, dos nomes esquecidos que clamam para ser lembrados. O poeta desceu ao cais do espírito e nela encontrou não destino, mas missão. --- ❖ CONTO III — A Cidade onde a Alma se Revela Lisboa ergueu-se diante dele — não a Lisboa das ruas, mas a Lisboa eterna, a que existe entre a sombra e o clarão, a que se mostra apenas aos que caminham com olhos de fogo. As pedras falavam. Os telhados lembravam segredos. As janelas guardavam histórias de santos, mendigos, artistas e profetas. E Emanuel andou por ela como quem anda por dentro de si. --- ❖ CONTO IV — A Morte do Homem Raso Neste conto, o poeta enfrenta o espelho. Nele vê a sombra do homem que não luta, aquele que desiste, aquele que se curva, aquele que se perde na pressa do mundo. Emanuel levanta a mão e toca o espelho como quem toca um ferido. E diz: “Morre, homem raso. Nasce, homem profundo.” E o reflexo incendiou-se. --- ❖ CONTO V — O Arrazoar com Deus Numa colina onde o vento é oração, o poeta sentou-se diante do silêncio e falou com Deus. Não com soberba; com humildade inquieta. Perguntou-Lhe das dores, dos homens, dos desertos da alma, dos mistérios que rasgam o peito, da razão da queda, do peso da fé. E Deus respondeu não com voz, mas com paz. Emanuel compreendeu: a resposta é Deus; a pergunta é o homem. --- ❖ CONTO VI — A Palavra que Arde As Escrituras abriram-se diante dele como quem abre o peito e mostra o coração a pulsar. Cada versículo era chama. Cada chama era caminho. Emanuel compreendeu que a Palavra não é lida — é vivida. E ao viver, ela transforma. --- ❖ CONTO VII — A Montanha dos Últimos Dias Subiu ao monte. E no alto, o vento tornou-se profecia. Viu sinais, mundos, céus a mover-se, povos em busca de luz, nações a tremer. Uma voz ecoou entre nuvens: “Sê sentinela. O mundo dorme, mas tu, desperta.” Emanuel desceu do monte com os olhos de um vigia do tempo. --- ❖ CONTO VIII — O Livro dos Antepassados Nas mãos do poeta apareceu um livro. Um livro sem capa, sem título, feito de nomes, datas, lágrimas e esperanças. Era um livro vivo. Emanuel abriu-o e encontrou avós que nunca conheceu, vidas que se apagaram, almas que clamam por memória. A genealogia tornou-se sagrada, e o poeta compreendeu: não estamos sós, nem viemos sozinhos. --- ❖ CONTO IX — As Cidades Invisíveis do Espírito O poeta viajou através de cidades que não existem no mapa: Sião intangível, Jerusalém eterna, A Cidade das Almas Vigilantes, A Cidade dos que Amaram Demais. Cada cidade mostrava-lhe uma verdade: o homem não vive apenas no mundo — vive no reino interior que constrói. --- ❖ CONTO X — O Homem Ferido que Não Cai Numa noite de fragilidade, o poeta quase quebrou. O peso da vida apertou os ossos e a alma quase cedeu. Mas Emanuel, ferido, ergueu-se: “Se sofro, continuo. Se caio, levanto. Se sangro, escrevo.” E nesse instante, o céu lembrou o seu nome. --- ❖ CONTO XI — O Espírito que Ensina O Espírito Santo veio a ele como brisa suave, não com tempestade. Ensinou-lhe discernimento, força, sabedoria. Mostrou-lhe a diferença entre saber e entender, entre ver e discernir, entre conhecer e obedecer. E Emanuel compreendeu que o Espírito não fala — revela. --- ❖ CONTO XII — A Batalha que Não é Nossa Neste conto, o poeta descobre: a grande guerra do homem não é contra o mundo, mas contra si mesmo. E Deus sussurra: “A peleja não é tua — é Minha.” Emanuel entregou a espada e recebeu paz. --- ❖ CONTO XIII — A Casa que Deus Constrói A casa não é de pedra. É de almas, perdão, fé, aliança, memória. O poeta compreende: a verdadeira casa é eterna. Família é templo. Amor é sacerdócio. E ele promete: "Hei de entrar no Teu templo de mãos dadas com o meu filho." --- ❖ CONTO XIV — A Segunda Morte e o Novo Homem O velho Emanuel morre neste conto. Morre o ego. Morre o desespero. Morre o medo. Morre o impossível. E nasce o homem novo — com o coração selado, o espírito desperto, os olhos abertos, as mãos limpas. Um homem que sabe que Cristo o chama pelo nome. --- ❖ CONTO XV — O Vigia do Fim dos Tempos Emanuel observa o mundo não com olhos humanos, mas com olhos espirituais. Vê pressa, ruído, confusão, idolatria, solidão, perda. E decide ser vigia: aquele que não dorme, aquele que acende luzes, aquele que grita na noite: “Despertai!” --- ❖ CONTO XVI — A Eternidade Começa Aqui O poeta chega ao limite do caminho. Diante dele, um véu — não barreira, mas passagem. Escuta os que já partiram. Sente a mão do Salvador. Compreende que a morte é ponte, e que o amor nunca acaba. Emanuel escreve o último verso: “Não temo o fim. No fim começa o reencontro.” E assim fecha o Tomo II. Não com ponto final, mas com porta aberta para o infinito.