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terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Amor de amigo

O meu peito arde num fogo que não consome — ilumina. É um ardor antigo, anterior às palavras, mas reconhecível nos gestos simples da vida. Não se vê, mas respira-se. É emoção que caminha descalça pelos sentidos, deixando marcas invisíveis no tempo. Há uma harmonia boa que me sustém, como a presença silenciosa de uma amiga justa e fiel. Aceito-me nos dias que passam, e os dias, por instantes raros, aceitam-me também. Pairam tempos em que és mel no meu sangue, doçura que dá sentido ao acto de viver, e nesses instantes reclamo ao universo: — não deixes que o caos me devore. Venho de um ponto infinito, de um sopro cósmico sem nome, atravessei constelações para chegar a este eu profundo, onde o teu balanço oscila na balança da justiça cega, essa que diz igualdade mas pesa com dois pesos e duas medidas. Mesmo assim, permaneço. Olho o todo. Beijo o céu. E no azul distante reconheço Vénus, Deusa-mãe, ventre da razão de existir, espelho do desejo e da consciência. Nela me deleito, não por vaidade, mas para compreender a origem, para perscrutar o rasto antigo dos Neflins, essas criaturas entre a luz e a queda, sinais de que somos mistura, travessia, contradição viva. Procuro a razão de sermos unos, ligados por uma corrente que pulsa entre o vivo e o morto, entre o amor que arde e o silêncio que ensina. E nesse fio invisível descubro: existir é arder sem se apagar, é amar mesmo quando o cosmos treme, é continuar — com o peito em chama e a alma em vigília.

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