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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Pequenas lutas

Trabalhei tanto que as mãos já não sabem descansar e a alma aprendeu a vigiar a esperança como quem guarda uma chama ao vento. Dizem-nos para nos reinventarmos. O Presidente disse. O mundo repete. Mas quantas vezes pode um homem reinventar-se sem se perder de si? Eu já me reinventei no silêncio, na falta, na queda. Reinventei-me quando não havia palco, quando a arte era apenas um murmúrio encostado à parede do dia. Luto todos os dias. Não por glória — mas por dignidade. Venço pequenas batalhas: um dia pago, um gesto reconhecido, uma ideia que não morre. São vitórias discretas, essas que não saem nos jornais mas sustentam a vida. Esta guerra parece não ter fim. Não tem bombas, tem cansaço. Não tem inimigos visíveis, tem ausências. É uma guerra interior, onde resistir já é um ato criativo. E mesmo assim continuo. Porque sei que cada passo, por mais curto que seja, é um não dito ao abandono. Porque sei que a arte não nasce da facilidade, mas da insistência. Se o fim não se vê, que ao menos o caminho seja verdadeiro. E se a reinvenção já cansa, que reste isto: não desisti de ser quem sou.

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